22 dezembro 2005

Entrevista com Fábio Lopez - Parte 2

TGM - Fale-nos sobre a experiência de palestrar nas duas edições do DNA Tipográfico.
FL - O DNA Tipográfico foi o primeiro congresso de tipografia realizado no país, transformando-se numa espécie de marco da atividade no Brasil. Até então, várias pessoas se interessavam pelo assunto, mas poucas se conheciam e elas quase não se encontravam. O evento conseguiu reunir um grupo considerável de profissionais relacionados à atividade, funcionando como um grande cartão de visitas, pontuado por reflexões, trabalhos profissionais e experiências pessoais. A partir daí, vários projetos ganharam corpo e criou-se uma espécie de comunidade tipográfica – algo que ainda não existia por aqui. Eu apresentei meu trabalho de graduação e o projeto colônia, e fiquei muito satisfeito pelo retorno que tive, principalmente de alguns estudantes que naquele momento estavam se formando com projetos de tipografia. Um dos objetivos da palestra era demonstrar a profundidade da pesquisa realizada, apresentando a colônia como um laboratório de experimentação tipográfica.

O segundo DNA foi um evento ainda maior, pois além de reunir e ampliar o grupo do primeiro congresso, trouxe alguns excelentes tipógrafos latino-americanos para dividir suas experiências e realidades profissionais. Além da troca internacional, o congresso apresentou a tipografia num nível secundário de discussão, com diversas palestras focando aspectos críticos, educacionais e profissionais da atividade. Dessa vez, apresentei alguns projetos criados com exclusividade para a Redley durante o desenvolvimento das coleções da marca. O objetivo era demonstrar como o conhecimento tipográfico aplicado era capaz de funcionar como uma ferramenta estratégica, criando um design diferente e original.

TGM - Como você vê o cenário tipográfico brasileiro atualmente? Quais as suas expectativas para esse mercado no Brasil?
FL - A produção de fontes digitais tem crescido bastante, mas ainda permanece muito restrita a pequenos guetos acadêmicos, com um potencial de mercado ainda muito pouco desenvolvido no país. Estamos tentando criar um nível de especialização similar ao padrão internacional, mas esquecendo que antes disso precisamos despertar o interesse da sociedade pelo que fazemos – criando uma cultura tipográfica que ainda não existe. Discutir a atividade apenas por seu aspecto técnico é uma atitude elitista e transforma a tipografia numa área desinteressante e estéril.

Esse comportamento acaba funcionando como um dos maiores agentes de isolamento, e não contribuem em nada para ampliar o reconhecimento e o respeito pela atividade. Precisamos atrair o interesse de um público maior de designers e outros profissionais de comunicação, reduzindo o aspecto tecnocrata e academicista da atividade para inseri-la num contexto mais amplo e acessível. O diálogo com outras áreas do design é a melhor forma de criar demanda por novos trabalhos. Precisamos mostrar que a tipografia não é um prêmio para olhos eruditos, mas uma ferramenta básica e fundamental do design gráfico e da comunicação de massa. Não estamos acostumados a fazer isso. É preciso trocar o desejo de reconhecimento individual pela estratégia de capacitação coletiva, orientando os esforços para que a tipografia seja reconhecida também como uma importante atividade comercial.

A animação e a ilustração, por exemplo, romperam essa barreira e hoje em dia encontram-se em situação muito mais confortável que a tipografia. Existe demanda e gente vivendo disso. Enquanto a tipografia continuar a ser encarada como uma área de exibicionismo tecnológico, o tipógrafo vai continuar reclamando da inexistência de um mercado interno bem desenvolvido, da falta de respeito pela atividade e da baixa remuneração pelo que faz.

TGM - Quais os caminhos que o Brasil vai ter que trilhar para ocupar um espaço confortável no cenário tipográfico mundial?
FL - Reconhecimento internacional é conseqüência da criação de uma tradição de qualidade e respeito, e isso se faz através da consolidação de uma cultura tipográfica local, não através de prêmios e aval internacional. Precisamos de livros, pesquisas, palestras e congressos.

TGM - Quais são seus planos na área tipográfica? Por que você ainda não comercializa suas fontes?
FL - Quero continuar estudando, produzindo e dividindo o que aprendi. Estou começando em março meu mestrado na Esdi e tenho planos de dar aula, mas não gostaria de isolar a tipografia como um conhecimento específico. No lugar de comercializar as fontes, prefiro comercializar o conhecimento e vender tipografia sob encomenda. Uso meus trabalhos como cartão de apresentação e material de estudo.

TGM - Palavras Finais.
FL - Tipografia: não compre, plante.

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